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Escondido entre os limites de Miranda e Bodoquena, no coração do Mato Grosso do Sul, o Cânion do Rio Salobra é mais do que um destino turístico. É um convite ao deslumbramento, à contemplação e à reconexão com a natureza mais pura do Brasil. Pouco explorado se comparado a outros roteiros de ecoturismo, esse lugar guarda uma das experiências mais autênticas e surpreendentes do país.
Uma joia lapidada pela natureza
Formado ao longo de milhares de anos pela ação das águas cristalinas do Rio Salobra, o cânion revela paredões calcários imensos, trilhas semi-submersas e piscinas naturais que parecem pintadas à mão. Suas águas azul-esverdeadas refletem a vegetação e o céu com uma nitidez absurda, criando um espetáculo visual que não precisa de filtro.
O mais fascinante? O cânion está inserido dentro do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, uma área de proteção ambiental que abrange mais de 76 mil hectares e abriga uma biodiversidade única, com espécies ameaçadas como a onça-pintada, o tamanduá-bandeira e o cachorro-do-mato.
O que faz do Cânion do Rio Salobra um destino único?
Em um país com tantas belezas naturais, o que torna esse lugar tão especial? Simples: ele ainda não foi tomado pelo turismo em massa. Aqui, você não encontra filas para tirar fotos nem trilhas congestionadas. O contato com a natureza é direto, íntimo, quase espiritual.
O aquatrekking — modalidade de trilha que mescla caminhada em terra com trechos dentro do rio — é a principal forma de explorar o cânion. São cerca de 7 km de percurso (ida e volta) com paradas para banho, mergulho livre, descanso em bancos de areia e momentos de silêncio total, onde o único som é o da água correndo entre as pedras.
Trilha, fauna e sensações
A trilha começa no Eco Serrana Park, um receptivo que oferece estrutura básica e guias locais experientes. Após um breve briefing, os visitantes seguem por uma trilha de terra que logo mergulha em trechos alagados. Prepare-se para caminhar com água até os joelhos (ou a cintura em alguns pontos).
Durante o trajeto, é comum avistar araras, tucanos, capivaras, lontras e, com um pouco de sorte, pegadas de felinos. O frescor da água, o cheiro da vegetação e a luz filtrada pelas copas formam um ambiente sensorial intenso. É impossível sair dali igual ao que entrou.
Transparência que impressiona
O que mais chama atenção é a transparência da água. Isso se deve à presença abundante de rochas calcárias, que funcionam como filtros naturais. Em alguns trechos, é possível ver o fundo do rio com perfeição mesmo em pontos mais fundos. Peixes, troncos, rochas e bancos de areia compõem uma paisagem subaquática hipnotizante.
Quando ir e o que levar
A melhor época para visitar o cânion é entre maio e setembro, durante a estação seca. Nesse período, a visibilidade da água atinge seu ápice e o trajeto é mais seguro. Mas mesmo em meses de chuva, o passeio tem seu charme — o fluxo do rio aumenta e as cores da mata ficam ainda mais intensas.
Leve:
- Roupas leves que possam molhar
- Tênis de trilha ou sapatilha aquática
- Repelente e protetor solar biodegradáveis
- Boné ou chapéu
- Garrafa de água reutilizável
- Câmera ou celular à prova d’água
Como chegar
Partindo de Campo Grande, são cerca de 265 km até Bodoquena ou 200 km até Miranda. A partir dessas cidades, o acesso é feito por estrada de terra (em boas condições na seca) até o Eco Serrana Park. É altamente recomendado agendar o passeio com antecedência e contratar guias locais autorizados.
Turismo consciente
Por estar em uma área de preservação ambiental, o Cânion do Rio Salobra exige respeito e consciência de quem o visita. Não é permitido levar lixo, nem produtos químicos como shampoos e sabonetes. O uso de drones também é restrito. Cada visitante tem a responsabilidade de manter o local como encontrou — ou melhor.
Algumas agências e operadoras locais promovem o turismo regenerativo, em que parte da renda dos passeios é revertida para projetos de conservação, capacitação de comunidades e preservação da fauna e flora locais.
O que poucos sabem: histórias e curiosidades da região
O nome “Salobra” vem do fato de que parte das águas que alimentam o rio tem origem em nascentes que carregam minerais naturais, conferindo um leve toque salino e um sabor característico. Os povos originários da região consideravam o local sagrado, um espaço de encontro entre forças da natureza. Muitos moradores antigos de Bodoquena ainda contam histórias de “encantados” que viviam nas águas profundas do rio.
Além disso, o cânion e seus arredores já serviram de cenário para produções audiovisuais e ensaios fotográficos de alto padrão. Recentemente, fotógrafos de natureza do mundo inteiro vêm explorando a área em busca de registros únicos — como as imagens raras da ariranha pescando em águas claras.
O futuro do ecoturismo na região
Com o crescimento da demanda por experiências mais autênticas e sustentáveis, o Cânion do Rio Salobra desponta como um dos destinos mais promissores do Brasil. A combinação entre natureza intocada, controle de visitantes e parcerias com comunidades locais coloca o local em destaque como modelo de ecoturismo consciente.
Mas esse futuro depende de decisões responsáveis. A manutenção da biodiversidade, o respeito aos limites ambientais e a valorização da cultura local são fatores essenciais para que esse paraíso continue sendo o que é. Por isso, o apoio a projetos comunitários e guias certificados deve fazer parte da experiência de quem visita a região.
Roteiro de 2 dias para explorar o melhor do cânion
Dia 1 – Chegada e imersão
- Chegada em Bodoquena ou Miranda pela manhã
- Check-in em pousada de ecoturismo ou hotel fazenda
- Almoço com culinária pantaneira
- Trilha leve ao pôr do sol em mirantes da região
- Jantar simples e descanso
Dia 2 – O Cânion do Rio Salobra
- Saída cedo rumo ao Eco Serrana Park
- Aquatrekking completo pelo cânion (7 km ida e volta)
- Pausa para banho em piscinas naturais
- Almoço de campo (fornecido por operadores locais)
- Retorno no fim da tarde e encerramento da experiência
Palavra final
Em tempos de pressa, consumo excessivo e destinos lotados, encontrar um lugar como o Cânion do Rio Salobra é quase um presente. Mais do que um passeio, visitar esse cânion é um ato de desaceleração, um retorno ao essencial. E talvez seja isso o que mais precisamos: sentir a água fria nas pernas, ouvir o som da mata e lembrar que a vida pode ser muito mais simples e bela do que imaginamos.
Coloque esse destino no seu radar. Viva essa trilha. E depois conte para os outros — mas não para muitos. Lugares assim precisam de cuidado, não de multidões.
Artigo por Vida de Trilha – explorando o Brasil além do mapa.